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domingo, 22 de março de 2015

TESTEMUNHO...


Um livro que me levou a filosofar…

Um dos livros que mais me marcou, “O General no Seu Labirinto” de Gabriel García Marquéz. É um romance histórico que gira em torno da vida de Símon Bolívar. Não sei se se trata de uma história ou não, mas, no livro, as últimas palavras dele foram: “Como é que alguma vez haverei de sair deste labirinto?”. Eram belas as últimas palavras, mas não as percebia bem. O que será o labirinto? Será viver ou morrer? De que é que ele está a tentar fugir? Do mundo ou do fim do mesmo? Bem, estas perguntas mantiveram-me perplexa durante uns bons momentos da minha vida, até me encontrar no auge do sofrimento. O facto de um familiar querido falecer fez-me mudar por completo a perspetiva do que era o labirinto. Antes de tudo isso acontecer, pensei durante muito tempo que a escapatória do labirinto era fingir que ele não existia, construir um mundo pequeno num canto obscuro, do interminável labirinto, e fingir que não me encontrava perdida, mas sim em casa, o que acabou por me levar à solidão. No momento em que a minha avó morreu, eu sabia que iria esquecê-la, sim. Aquilo que nos unia iria desmoronar-se com uma lentidão incompreensível, e eu iria esquecer, mas ela ia perdoar o meu esquecimento, tal como eu lhe perdoo por se ter esquecido a mim… Sei agora que ela me perdoa. De início, pensei que ela estava apenas morta. Apenas a escuridão. Apenas um corpo a ser comido por insetos. Pensei muito nela dessa maneira, como a refeição de um bicho qualquer. Eu era nova, era ingénua não tinha ideia do que a palavra sofrimento significava. Mas a minha avó - olhos castanhos, sorriso acolhedor, personalidade de um anjo – em breve passaria a ser nada, apenas ossos. Ainda há vezes que penso nisso, penso que talvez o “Além” seja apenas algo que inventamos para aliviar a dor da perda, para tornar suportável o nosso tempo no labirinto. Talvez a minha avó fosse só matéria e a matéria é reciclada. Simplesmente não acredito que ela fosse só matéria, eu acredito que somos mais do que a soma das nossas partes. Se juntasse-mos ao corpo da minha avó todas as suas experiências de vida, e as relações que ela teve com as pessoas, não a obteríamos a ela. Existe uma parte dela que é mais do que a soma das suas partes. E essa parte tem que ir para algum lado, não pode ser destruída. Uma coisa que aprendi nas aulas de Ciência é que a energia nunca se cria nem se destrói; quando a minha mãe ou qualquer outro adulto diz  que “os adolescentes pensam que são invencíveis”, com aquele olhar perverso e sorriso parvo no rosto, não sabem a razão que têm. Achamos que somos invencíveis porque somos. Não podemos morrer! Tal como a energia, apenas pudemos mudar as formas e os tamanhos. Os adultos esquecem-se disso quando envelhecem, ficam com medo de falhar. Mas eu sei que ela me perdoa, tal como eu a perdoo a ela. Algum escritor famoso antes de morrer disse : “Ali está muito bonito”. Não sei onde fica o ali, mas sei que é algures e espero que seja bonito.
Daniela 0liveira Gomes, aluna do Curso de Ciências e Tecnologias,  10ªA


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