Os Direitos da Natureza?
Na aula de
filosofia defrontámo-nos com um problema filosófico extremamente atual: Terá a
natureza direitos, ou apenas o ser humano tem direitos e por isso mesmo pode
tratar a natureza como um simples meio? Esta questão surgiu com o
desenvolvimento da Ciência e da Técnica, com a subsequente exploração da
natureza, que conduziram ao aparecimento de inúmeros problemas ambientais.
Nos
anos 70, iniciou-se uma grande crise petrolífera.
A humanidade tomou consciência da sua dependência dos recursos energéticos.
Este problema levou a que se tivesse uma maior preocupação na preservação
desses recursos. Com o crescente desenvolvimento tecnológico e científico, e
com as descontroladas intervenções do Homem na Terra, gerou-se um grande
desequilíbrio no nosso ecossistema. Houve uma diminuição na quantidade de
pássaros e abelhas. As abelhas são fundamentais ao processo de polinização na
Terra. De modo que, sem estes insectos, não sobreviveríamos durante muito
tempo. Verificou-se também um aumento na desertificação e da infertilidade dos
solos, devido à sua sobre-exploração e ao uso excessivo de pesticidas. Com
todos estes problemas desencadeou-se um desequilíbrio geral na vida dos seres
vivos. Geraram-se catástrofes naturais universais.
Com os
gases provenientes do automobilismo exagerado, agravou-se o efeito de estufa
levando ao aquecimento global. Também os CFC´s (Clorofluorcarbonetos),
provenientes do uso de sprays,
originam um grande impacto no ambiente, principalmente na estratosfera. O que
acontece nesta camada é que, constantemente, está a ser formado e destruído
ozono de uma forma natural e equilibrada, o que permite que haja a quantidade
certa de ozono estratosférico necessária à vida na terra. Porém, o uso dos
clorofluorcarbonetos, veio alterar esse equilíbrio. A molécula de CFCs é
extremamente estável na troposfera, não reagindo com ninguém. Assim chega
livremente à estratosfera onde lhe é constantemente incidida radiação
ultravioleta de energia intermédia (UVB). Esta radiação tem energia suficiente
para provocar a dissociação do cloro presente nos CFC’s, originando assim o
radical livre Cl. O radical Cl ao reagir com o ozono origina o radical ClO e
também oxigénio molecular. Assim, quando o radical ClO reage com o ozono vai
voltar a formar-se o radical livre Cl e também oxigénio molecular. Deste modo,
o radical cloro vai atuar como uma catalisador, pois ainda que reaja com outras
moléculas, vai haver sempre a formação deste e por isso nunca se esgotará.
Deste modo, com o uso dos CFC’s a quantidade de ozono produzido passou a ser
inferior à quantidade de ozono destruído, originando-se assim o buraco do ozono
necessário para filtrar a radiação ultravioleta. Assim, vai haver uma maior
entrada desta radiação, causadora de cancros e outras doenças de pele.
A nível
biológico, as alterações provocadas pelo Homem, também causaram inúmeras
consequências. A verdade é que houve um aumento do número de espécies em perigo
de extinção (espécies cuja sobrevivência é considerada duvidosa caso continuem
a atuar os factores que as ameaçam), e uma consequente redução do número de
espécies existentes. As principais causas dessa extinção são a alteração e
destruição de habitats, o
superconsumo, pois com o aumento generalizado da população humana, aumenta
também a captura, o desenvolvimento tecnológico e o tráfico ilícito, originando
assim, a sobre-exploração do ecossistema, e por fim a proliferação de espécies
invasoras, pois, com a introdução de espécies em meios onde são desconhecidas e
onde não têm predadores nem concorrentes sérios, haverá uma eliminação de
numerosas outras espécies.
Todas estas
ações precipitadas e irrefletidas do Homem, têm impactos graves tanto a nível
ambiental como no próprio homem, ainda que indiretamente.
Devido
a todo este desequilíbrio na Terra, hoje em dia a Ética Ambiental é uma
disciplina da filosofia demasiado importante. Em Ética Ambiental discutem-se as
razões pelas quais devemos proteger a natureza e o fundamento da
responsabilidade ecológica.
Para
tentar responder a este problema, apresentaram-se várias teses: o utilitarismo,
a tese de Hans Jonas e a Ecologia Profunda.
O
utilitarismo defende que a natureza tem um valor instrumental, valor em si
mesma. Devemos usufruir ao máximo da natureza, pelo que esta deve estar ao
serviço do Homem. Devemos proteger a natureza, não pelo seu valor intrínseco,
mas sim para salvaguardar o futuro da espécie humana. Esta tese baseia-se no
antropocentrismo, pois coloca os interesses e as necessidades do Homem no
centro de tudo.
A
tese de Hans Jonas é uma tese menos radical. Defende que a vida humana é
absoluta e a natureza é uma condição da sobrevivência do ser humano. Por isso
tem de haver solidariedade entre ela e o Homem. Devemos agir de acordo com o
imperativo que ordena: “Age de tal forma que as consequências da tua ação sejam
compatíveis com a vida automaticamente humana na Terra”. Temos de agir com
responsabilidade assegurando o futuro das gerações vindouras. Somos o resultado
da natureza, logo devemos preservá-la e cuidar dela.
A
Ecologia Profunda afirma que devemos proteger, respeitar a natureza
independentemente dos nossos interesses e necessidades. A natureza tem um valor
intrínseco, valendo por si própria. Esta tese defende o respeito pelo ambiente,
não porque os seres humanos dependam dele, mas sim pelo seu valor intrínseco. A
Ética da Terra considera o ser humano como uma espécie como outra qualquer,
existente na natureza. O ser humano é considerado tão valioso como todos os
outros elementos da natureza.
Porém,
a Ecologia Profunda crítica ferozmente o utilitarismo. Nega o antropocentrismo,
ou seja, a valoração do Homem acima de tudo. Argumenta que o Homem utiliza os
recursos naturais de uma maneira tão descontrolada, que caso haja continuidade,
tornar-se-á um ser autodestrutivo. Também critica a tese de Hans Jonas,
argumentando que apesar de falar de “dignidade autónoma da natureza” baseia o
respeito pela natureza nas necessidades das gerações futuras.
Outros
filósofos criticam a Ecologia Profunda levantando a questão: Como pode a
natureza ser um sujeito de direito, se não é portador de deveres? Todas as
entidades que têm direitos, têm deveres. Esta tese esquece também que o Homem é
um ser da natureza.
Considero
que a tese mais aceitável é a tese de Hans Jonas, pois é uma tese moderada.
Concordo com os argumentos utilizados por Jonas, pois devemos utilizar a
natureza consoante as nossas necessidades, para que seja possível a
sobrevivência humana, porém devemos fazê-lo de uma forma controlada. Devemos
preocupar-nos com o desenvolvimento sustentável, que implica desenvolver
suficientemente a Terra, utilizando os recursos naturais responsavelmente, não
destruindo nem prejudicando a sua existência, para que as gerações vindouras
tenham acesso a esses recursos.
Na verdade
somos produto da natureza, trabalho este que demorou milhões e milhões de anos
a ser conseguido. Considero a Terra como sendo um prodígio, um lugar tão
maravilhoso, que jamais deverá ser posta em causa a sua existência. Porém,
atualmente, o Homem leva uma vida demasiado descontrolada e enquanto
praticarmos atos tão desastrosos na natureza, estaremos a atentar tanto contra
o planeta, como contra a nossa sobrevivência.
Condeno a
atitude egoísta de grande parte da espécie humana, que apenas pensa nas suas
necessidades, no seu conforto, no seu próprio bem, e esquece-se que existem
muitas outras formas de vida na Terra e que devem ser respeitadas e protegidas
de igual forma, da mesma maneira que todos nós desejamos ser respeitados e
protegidos.
Carla Silva, aluna do Curso de Ciências e Tecnologias, 10ºB
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