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quarta-feira, 8 de abril de 2015



Filósofos Medievais 

SANTO AGOSTINHO


Santo Agostinho nasceu em Tagaste, norte da África, no dia 13 de novembro do ano 354. Filho de um Patrício, pagão e voltado para o materialismo da época e de Mónica, profundamente cristã, que depois se tornaria santa. A influência dos pais foi muito grande, primeiro a do pai, depois a de Santa Mónica.
Agostinho realiza os primeiros estudos em Tagaste, indo depois a Madaura. Aos 17 anos vai a Cartago, onde Romaniano, amigo do pai, o ajuda e torna-se seu protetor. Aos 20 anos volta a Tagaste como professor, com uma mulher e um filho, Adeodato, retornando pouco depois para Cartago também como professor. Torna-se professor em Roma e, mais tarde, vai para Milão, onde ganha a cátedra de retórica da casa imperial.
Procurou a felicidade em muitos lugares, mas não a encontrava. A sua mãe encontra-o em Milão e incita-o a frequentar as pregações de Santo Ambrósio.
No mês de agosto de 386, meditando no jardim, ouve uma voz de criança que diz "Tolle et lege" (Toma e lê) e tomando as Cartas de São Paulo lê: "Não é nos prazeres da vida, mas em seguir a Cristo que se encontra a felicidade". Nesse momento as suas dúvidas dissipam-se, culminando todo o processo da conversão. No ano seguinte, na Vigília Pascal, é batizado.
Agostinho decide voltar a Tagaste, para morar com os seus amigos, e entregar-se inteiramente ao serviço de Deus por meio da oração e do estudo. Mas no ano 391, de visita na cidade de Hipona, é proclamado sacerdote pelo povo e ordenado padre pelo bispo Valério. Quatro anos depois é consagrado Bispo da cidade, daí o nome de Agostinho de Hipona.
Santo Agostinho vive em comunidade, tentando seguir o ideal das primeiras comunidades cristãs, na pobreza e na partilha.
Agostinho escreveu um enorme número de obras: um total de 113, sem contar as cartas das quais se conservam mais de duzentas e de variadíssimos Sermões. A maior parte das obras de Santo Agostinho surgiram por causa dos problemas ou das preocupações que atormentavam a Igreja do seu tempo.

De entre as suas obras, destacam duas pela sua genialidade: "A Cidade de Deus", que representa a primeira tentativa de fazer uma interpretação cristã da história, e "As Confissões", que louva a graça de Deus em todas as suas manifestações. A obra e o pensamento de Agostinho ultrapassam os limites de sua época e exercem uma grande influência na Idade Média e também na nossa época. A influência de Agostinho acontece nos diversos campos do pensamento, da cultura e da vida religiosa. Agostinho morreu no dia 28 de agosto do ano 430 e os seus restos mortais descansam na cidade de Pavia, no norte da Itália.

Santo Anselmo da Cantuária


Nasceu a 1033, no norte da Itália. Dedica-se, desde muito cedo à fé e à investigação. Aos 23 anos, sai de casa e vaga pelas terras da França, até que se mudou para a Cantuária. Aí escreve as suas principais obras e ganha fama, como conselheiro de governantes e de nobres por toda a Europa. No ano de 1093, torna-se arcebispo da Cantuária.
Inspirados no estilo platónico, os diálogos de Santo Anselmo procuram esclarecer a Sagrada Escritura e, consequentemente, a natureza de Deus. Cada um deles levanta um importante problema. Assim no diálogo A Verdade, Santo Anselmo argumenta que a verdade é a retidão do objeto percebida pela mente. E o que é a retidão? É algo ser o que é. Deus é a máxima retidão, a verdade suprema e eterna, é o que é infinitamente e que dita como tudo deve ser (conforme a metáfora neoplatónica, é o sol que ilumina).’’
No diálogo A Liberdade de Arbítrio, Anselmo apresenta o livre-arbítrio como a "capacidade de pecar e não pecar", ou o "poder de preservar a retidão da vontade em razão da própria retidão". Esatbelece, deste modo, uma correspondência entre liberdade, verdade e justiça.
É por isso que, em Sobre a Queda do Demónio, Anselmo diz que os anjos, apesar de não poderem pecar, são mais livres do que os que pecam, pois conhecem diretamente a verdade suprema, que é Deus. Assim sendo, quando os seres conscientes escolhem ou subordinam a justiça à felicidade própria, ou a felicidade própria à justiça. Os anjos, ao escolherem o bem, foram recompensados com a felicidade e ficaram isentos do pecado, pois possuem agora as duas vontades em plenitude. Ou seja, o livre-arbítrio perfeito é a incapacidade de pecar.

São Boaventura


Boaventura nasceu com o nome de Giovanni di Fidanza. Foi um teólogo e filósofo escolástico medieval, nascido na Itália no século XIII. Filho de um médico, segundo as suas próprias palavras, durante a infância, foi curado de graves doenças graças à intercessão de Francisco de Assis. Formou-se em 1243 na Universidade de Paris e entrou para a ordem dos franciscanos, recebendo o nome de Boaventura. Continuou os estudos de teologia sob a orientação de célebres eruditos como Alexandre de Hales, enquanto se preparava para fazer votos de irmão mendicante. Foi o sétimo ministro geral da Ordem dos Frades Menores. São Boaventura foicanonizado em 14 de abril de 1482 pelopapa Sisto IV e declarado Doutor da Igreja em 1588 pelo papa Sisto V como "Doutor Seráfico". Além de influenciar a teologia católica, a personalidade de São Boaventura imprimiu um caráter particular à ordem franciscana, cujo espírito e regulamentos renovou.
As obras de Boaventura, de acordo com a mais recente edição crítica, pelo Collegio di San Bonaventura, são compostas por um Comentário sobre as Sentenças de (Pedro) Lombardo, em 4 volumes. As obras mais famosas são Itinerarium Mentis in Deum, Breviloquium e De Reductione Artium ad Theologiam, Soliloquium nas quais se encontram as mais peculiares características da sua doutrina.
  

Pedro Abelardo (1079 – 1142)




Pedro Abelardo foi um filósofo escolástico francês, nascido em Le Pallet. É considerado um dos maiores pensadores do século Xll. Apesar das pressões por parte da família para seguir a carreira militar, Abelardo decidiu enveredar pelo caminho da filosofia e das letras.
Foi um ilustre intelectual da academia de Paris, onde foi professor. O seu ensino foi revolucionário, pois estimulava os debates e as contradições entre as questões estabelecidas.  Ficaram muito conhecidas as suas vicissitudes amorosas com a sua aluna Heloísa, pela qual Abelardo foi perdidamente apaixonado, e também as suas desavenças com Bernardo de Claraval.
O tema a que este filósofo deu maior atenção no ramo da filosofia, foi a questão dos universais (realidades mentais que dão significado aos termos gerais que designam propriedades de classes e objetos), apresentando como solução para o problema, o método do Sic et non(Sim ou Não), a doutrina sobre a boa intenção e a dialética.
O Sic et non, consiste em reunir teses opostas sobre qualquer tipo de assunto, deixando ao critério do “leitor”  o lado da verdade. O objetivo de Abelardo era didático, pois as questões duvidosas levantadas pelas teses contrárias, estimulava a procura de uma solução.
A doutrina da intenção elaborada por Abelardo no campo ético foi muito importante. Para Pedro Abelardo, a moralidade de uma ação não dependia do objeto, nem das circunstâncias e nem das paixões, mas sim da intenção: “Para Deus não importa o que fazemos, mas com qual intenção o fazemos”. O nosso mérito não depende da ação, mas unicamente da nossa intenção. Abelardo afirmou que até a crucificação de Cristo e as perseguições aos mártires seriam boas se fossem praticadas com boa intenção.
Depois de sua relação com Heloísa, Abelardo decidiu tornar-se monge e dedicou-se ao ensino da teologia.
Pedro Abelardo escreveu várias obras, das quais: A Teologia Cristã, Diálogo entre um Filósofo, um Judeu e um Cristão, obra inacabada;A Dialética; Ética ou Conhece-te a Ti Mesmo, As Glosas.

O pensamento de Pedro Abelardo, contribuiu muito para o desenvolvimento da filosofia, na medida em que procurou abrir novos horizontes em todos os campos que abordou. Segundo alguns dos seus intérpretes é possível situar Pedro Abelardo no início do movimento racionalista, que rompeu com grande força, no início da Idade Moderna. Pedro Abelardo foi, sem dúvidas, um filósofo de vanguarda.

São Tomás de Aquino


São Tomás de Aquino nasceu na cidade de Roccasecca, Itália, em 1225. Foi um importante teólogo, filósofo e padre dominicano do século XIII. Foi declarado santo pelo papa João XXII em 18 de julho de 1323. É considerado um dos principais representantes da escolástica. Tomás de Aquino procurou colocar a filosofia greco-latina clássica (principalmente a filosofia de Aristóteles) ao serviço da compreensão da revelação religiosa do cristianismo.
Em 1230 iniciou os seus estudos na abadia de Roccasecca. Em 1244 ingressou na ordem religiosa dos Dominicanos. Entre 1245 e 1248 estudou na cidade de Paris e foi orientado por Alberto Magno. Entre 1248 e 1259 estudou na Faculdade de Teologia, fundada por Alberto Magno na cidade alemã de Colónia. Entre 1252 e 1259 foi mestre na Universidade de Paris. Em 1259 escreveu a Suma contra os gentios. Em 1273 escreveu a Suma Teológica. São Tomás de Aquino faleceu na cidade de Fossanova, Itália, a 7 de março de 1274.

São Tomás criou um sistema filosófico e teológico próprio e original, que gradualmente se tornou importante a ponto de marcar toda a filosofia medieval. Aqueles que seguem o pensamento de São Tomás ou alguma das suas doutrinas são conhecidos por tomistas. No Concílio de Trento, a doutrina tomista ocupou lugar de honra e, a partir do papa Leão XIII, foi adotada como pensamento oficial da Igreja Católica.
Segundo a interpretação de São Tomás, Teologia e Filosofia não se chocam nem se confundem; são conceitos distintos e harmónicos. A teologia é considerada uma ciência suprema, fundada na revelação divina, e a filosofia, a sua auxiliar. Cabe à filosofia demonstrar a natureza e a existência divina em plena harmonia com a razão. Só há conflito entre filosofia e teologia caso a primeira, num uso incorreto da razão, se proponha explicar o mistério do dogma religioso sem o auxílio da fé. Considera Tomás de Aquino que a alma é a forma essencial do corpo, responsável por dar vida a este. A alma humana é subsistente, imortal e única, por isso o homem tende naturalmente para Deus. A ética tomista é precisamente concentrada neste movimento, que é considerado natural e racional, do ser para Deus, alcançando a visão ou a contemplação imediata do criador.

Bibliografia:
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

Webgrafia:

Trabalho realizado pelos alunos: Ana Cerqueira, Ana Silva, Beatriz Jesus, Carla Afonso, Helena Silva, Marcos Loureiro, , Maria João Gomes, Mariana Freitas, Mariana Gonçalves, Vera Gonçalves, alunos do Curso de Humanidades, 10º C
Pedro Hispano


Pedro Julião, também conhecido como Pedro Hispano Portucalense, nasceu em Lisboa por volta de 1205. Foi filósofo, matemático, teólogo, médico, professor e clérigo português. Era filho de famílias abastadas, o que lhe permitiu depois do ensino na escola episcopal da Sé, prosseguir os estudos na Universidade de Paris, onde estudou Medicina, Teologia e contactou com algumas obras filosóficas, nomeadamente com a filosofia de São Tomás de Aquino.
A sua fama de homem culto levou a que o papa Gregório X o chamasse para se tornar seu médico privado e, mais tarde o nomeasse Cardeal-bispo de Túsculo.
Foi o maior filósofo português da Idade Média e aquele cuja obra alcançou autêntica notoriedade à escala europeia. Iniciou os seus estudos na escola catedral de Lisboa e continuou-os em Paris e Siena, onde se tornou professor e autor respeitado. Apesar de ser médico, teve uma importante carreira eclesiástica, sendo sucessivamente decano da Sé de Lisboa, arcebispo de Braga, cardeal e o único papa português, com o nome de João XXI (1276).
Aluno de Alberto Magno e contemporâneo de Tomás de Aquino, Pedro Hispano foi um dos lógicos mais influentes da primeira escolástica. A sua fama em toda a Europa está patente no facto de Dante o ter incluído no grupo de grandes estudiosos retratados na Divina comédia, onde é referido como «Pietro Spano». A sua obra Summulae logicales, foi copiada e ensinada nas universidades europeias durante mais de três séculos.
 Na sua obra, Pedro Hispano preocupou-se com as propriedades dos termos utilizados na linguagem e com a sua relação com o conhecimento. O estudo do significado e da articulação dos diferentes termos (palavras e expressões) nas proposições tornou-se, assim, o objeto da lógica e aproximando-a da gramática, com a qual deveria, na perspetiva do lógico português, tender a partilhar as mesmas regras. Segundo Pedro Hispano o ideal seria que as leis do pensamento se aproximassem das leis da linguagem.
Outras obras atribuídas a Pedro Hispano, nomeadamente Scientialibri de anima, abordam a questão da alma, sua natureza e capacidade de auto-conhecimento.

Webgrafia:


Trabalho realizado pelos alunos: Ana Cerqueira, Ana Silva, Beatriz Jesus, Carla Afonso, Helena Silva, Marcos Loureiro, Maria João Gomes, Mariana Freitas, Mariana Gonçalves, Vera Gonçalves, alunos do Curso de Humanidades, 10º C.
Dom Duarte



Dado que os autores referidos escreviam em latim, é ao rei D. Duarte (1391-1438) que se deve a primeira obra filosófica em língua portuguesa – O Leal conselheiro. Esta obra foi a primeira a articular reflexões filosóficas em língua vulgar, algo que só se tornaria comum alguns séculos mais tarde. Trata-se de um livro pouco sistemático, orientado para questões de filosofia moral e política, mas profundamente marcado pela síntese operada por são Tomás de Aquino entre a filosofia aristotélica e os ensinamentos da Igreja Católica.

Bibliografia:
GAMA, José, Dº Duarte e a Filosofia da Cultura Portuguesa, Braga, Faculdade de filosofia de Braga, 1991, in http://repositorio.ucp.pt/handle/10400.14/5626 (Consultado em 10/02/2015)
Webgrafia:


Trabalho realizado pelos alunos: Ana Cerqueira, Ana Silva, Beatriz Jesus, Carla Afonso, Helena Silva, Marcos Loureiro, Maria João Gomes, Mariana Freitas, Mariana Gonçalves, Vera Gonçalves, alunos do Curso de Humanidades, 10º C.
Santo António de Lisboa



São poucas e imprecisas as informações sobre o nascimento e a infância do Santo António de Lisboa e de Pádua. Não se sabe com exatidão o ano do nascimento. Terá nascido em 1191 ou 1192. Terá vivido 39 anos e a sua morte terá ocorrido em 12 ou 13 de Junho de 1231. Os seus pais foram Martinho de Bulhões e Teresa Tavera. Segundo um biógrafo, nascera em Lisboa, cidade "situada nos confins da terra", numa casa que tinham seus pais junto da Sé, onde foi batizado pelo oitavo dia, sendo‐lhe dado o nome de Fernando. A sua infância, passou‐a certamente no seio da família. Nela cresceu a particular devoção à Santíssima Virgem e ao Menino. Para além da formação ministrada pelos pais, Fernando terá sido educado na escola catedralícia e, desse modo, iniciado nas disciplinas que integravam o habitual plano de estudos da época: gramática, retórica, música, aritmética e astronomia. Aos 15 anos, entrou no mosteiro de S. Vicente de Fora, da Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, nas proximidades de Lisboa. Permanecendo apenas dois anos, transferindo‐se, depois, para mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, a fim de evitar tantas visitas de parentes e amigos, que lhe perturbavam o silêncio e a sua paz. Em Coimbra, levou uma vida fervorosa, de trabalho espiritual e de estudo. Aplicou‐se à filosofia, teologia e ao conhecimento mais aprofundado da Sagrada Escritura. O ambiente político‐religioso de então, no mosteiro de Santa Cruz, terá molestado o Santo, que se esforçava por se dedicar exclusivamente ao estudo aliado à oração e ao progresso espiritual. Lá foi ordenado sacerdote
A vida simples dos pobrezinhos franciscanos do ermitério de Santo Antão dos Olivais, de Coimbra, terá sido o sinal irresistível. Tê‐lo‐á marcado para sempre o seu primeiro contacto com um grupo deles que se hospedou no mosteiro, na sua passagem por Coimbra, em direção a África. Um dia em que os fradinhos de Santo Antão dos Olivais foram ao mosteiro à procura de esmola, Fernando, em segredo, confiou‐lhes o seu propósito, dizendo-lhes: "Irmãos receberia com entusiasmo o hábito da vossa Ordem se me garantísseis enviar‐me, logo, à terra de sarracenos a fim de participar da coroa dos santos mártires". Eles deram‐lhe a palavra e fixaram para a manhã seguinte a entrada na Ordem franciscana. Fernando mudou o nome para António e ainda foi mandado a terra de infiéis. A cerimónia da imposição do hábito ao novo candidato terá sido rápida e simples.
Em 1220 vai para o Norte de África em missão apostólica mas adoece gravemente e tem de regressar mas, uma violenta tempestade desviou o barco para a Sicília, iniciando em Itália uma vida eremítica por várias comunidades franciscanas, abraçando por completo o ideal franciscano: a pobreza, a austeridade, a humildade, o jejum e a oração. Frei António fixa-se definitivamente em Pádua até Maio de 1231, altura em que se recolhe no eremitério de Camposampiero, passando aí o resto dos seus dias. Falece em Arcella, nos arredores de Pádua, a 13 de Junho de 1231. É canonizado, por Gregório IX, a 30 de Maio de 1232 e declarado Doutor da Igreja, por Pio XIII, com o título de Doutor Evangélico, a 16 de Janeiro de 1946.
Nos escritos de Santo António de Lisboa anteriores à síntese realizada por São Tomás de Aquino entre a razão e a revelação, encontra-se já uma filosofia que, embora plenamente cristianizada, propõe a colaboração da filosofia e da razão na obra divina da salvação. Nos seus Sermões, Santo António desenvolveu uma espiritualidade franciscana que teria uma longa influência em Portugal e, plenamente integrado no espírito das ordens mendicantes, explorou a vertente prática e quotidiana da moral.

Bibliografia:
MARTINS, Mário, Correntes da Filosofia Religiosa dos séculos. IV a VII, Porto, Livraria T Martins, 1950.
Webgrafia:

Para saber mais deves consultar:
Maria Cândida Pacheco, Santo António de Lisboa - da Ciência da Escritura ao Livro da Natureza, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1997.


Trabalho realizado pelos alunos: Ana Cerqueira, Ana Silva, Beatriz Jesus, Carla Afonso, Helena Silva, Marcos Loureiro, Maria João Gomes, Mariana Freitas, Mariana Gonçalves, Vera Gonçalves, alunos do Curso de Humanidades, 10º C.
São Martinho de Dume (c. 518-579)


Natural da Panónia (Hungria), São Martinho de Dume, também conhecido como São Martinho de Braga, nasceu entre 518-525. Foi nomeado bispo de Dume e, posteriormente, arcebispo de Braga, tendo falecido em 20 de março de 579.
Martinho de Dume e de Braga é considerado o Apóstolo dos Suevos. A sua missão era a de evangelizar a Galécia. Foi um homem extremamente culto. Na sua atividade pastoral escreveu de modo a que qualquer homem pudesse compreendê-lo, mas sempre orientado por um forte sentido moralista. No sermão Contra as Superstições: Da instrução dos Rústicos(De CorrectioneRusticorum), redigido, provavelmente, por volta do ano 572, após a realização do II Concílio de Braga procura converter aqueles «que continuam presos à antiga superstição dos pagãos». Neste sermão propõe a substituição de falsos símbolos por símbolos justificados, ataca a superstição. Essa afirmação da fé cristã pretende levar os aldeões a abandonarem os seus rituais sagrados, substituindo-os pelo batismo, abandonando as heresias e aceitando a verdade cristã, sob a ameaça de sofrer o castigo eterno
Foi autor, entre outras obras, de um tratado de ética, Formulae vitae honestae, dedicada ao rei dos Suevos, esta obra evidencia a influência de Séneca e apoiou-se apenas na razão natural, dispensando o recurso à moral revelada ou à Bíblia.

Excertos
Do opúsculo De Correctione Rusticorum, dirigido ao povo rústico, os aldeões da zona da Galécia, tendo como destinatário o bispo Polémio de Astorga e da Formulae vitae honestae, dedicada ao rei dos Suevos.
Do bispo Santo Martinho para o bispo Polémio.
(...) Vendo o Diabo que o homem fora criado, precisamente, para ocupar no reino de Deus, o lugar de onde ele tinha caído, roído de inveja, persuadiu o homem a transgredir os mandamentos de Deus. Devido a esta ofensa, o homem foi expulso do Paraíso, para exílio deste mundo, onde sofreria muitos trabalhos e dores.
(...) Então, o Diabo e os seus ministros, os demónios, que foram expulsos do Céu, vendo os homens ignorantes, esquecido de Deus seu Criador, começavam a entre as criaturas e aparecer-lhes, manifestando-se-lhes de diferentes formas, a falar com elas e a pedir que lhes oferecessem sacrifícios no alto dos montes, nas florestas frondosas e a considera-los como deuses, dando a si próprios nomes de homens celerados, que tinham passado a vida a cometer celeridades de toda a espécie de crimes, um chamou a si de Júpiter, o qual fora mago e se manchara e adultérios e incestos, de tal modo que tomou por sua mulher a irmã, que se chamava Juno, corrompeu as suas filhas Minerva e Vênus e cometeu incesto, torpemente, com todos os seus parentes.
Um outro demónio quis chamar-se Mercúrio, que foi inventor dos roubos e das fraudes dolosas, q quem os homens cobiçosos, como se fosse ao deus do lucro, oferecem sacrifícios, ao passarem pelas encruzilhadas, lançando pedras e com elas formando montes.
Outro demónio atribuiu a si próprio o nome de Saturno, que vivendo em total crueldade, até devorava os seus filhos recém-nascidos.
Outro demónio fingiu que era Vênus, que foi mulher meretriz. Não só cometeu inumeráveis adultérios, como se prostitui com o seu pai Júpiter e com seu irmão Marte.
(...) Os demónios também persuadiram a que lhes construíssem templos e que neles colocasse imagens ou estátuas de homens celerados e lhes erguessem altares nos quais sacrificassem sangue, não só de animais, mas também de homens.
Além disso, muitos demónios, que foram expulsos do Céu, presidem o mar, aos rios, às fontes, às florestas, aos quais os homens ignorantes de Deus, do mesmo modo adoram como se fossem deuses e oferecem-lhes sacrifícios. No mar são chamados Neptuno, nos rios Lâmias, nas fontes Ninfas, nas florestas Dianas; todos eles são demónios e espíritos malignos que atormentam e perturbam os homens infiéis, que não sabem proteger-se com o sinal da cruz.
Contudo, não os atormentam sem a permissão de Deus, porque têm irritado Deus e não crêem, com todo o coração, na fé de Cristo, mas são dúbios. “A ponto de darem os nomes próprios dos demónios a cada um dos dias e chamam-lhes dia de Marte, de Mercúrio, de Júpiter, de Vénus e de Saturno, eles que não fizeram nenhum dia, mas foram homens péssimos e celerados entre gente grega.”

Preparai a vossa vida com boas obras. Frequentai a Igreja ou os lugares sagrados para rezar a Deus. Não desprezai o dia do Senhor, mais respeitai-o com reverência, o qual se chama Domingo, porque o Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, nesse dia ressuscitou dos mortos.
Como é iníquo e vergonhoso que aqueles que são pagãos e que ignoram a fé Cristã, adorando os ídolos dos demónios, guardem o dia de Júpiter ou de qualquer outro demónio e se abstenham de trabalhar, quando na realidade os demónios não criaram e nem possuem nenhum dia.
Regra de vida Honesta
É próprio do prudente, escreve S. Martinho de Dume, examinar conselhos e não se deixar levar arrebatadamente dos falsos com fácil credulidade. Nas coisas duvidosas não decididas, mas suspende o teu juízo: nada  afirmes sem o teres averiguado, porque nem tudo o que tem aparência de verdade é verdadeiro; assim como, muitas vezes, o que à primeira vista parece incrível nem por isso é falso. De facto, frequentemente a verdade conserva a cara da mentira e não poucas a mentira se esconde debaixo da aparência da verdade.

Bibliografia:

MARTINHO DE DUME, Opúsculos Morais. Tradução: Maria de Lourdes Sirgado Ganho, Lisboa, INCM, 1998.
BARBOSA, A. Miranda, Obras Filosóficas. Lisboa, INCM, 1996.
MARTINS, Mário, Correntes da Filosofia Religiosa dos séculos. IV a VII, Porto, Livraria T Martins, 1950.

Trabalho realizado pelos alunos: Ana Cerqueira, Ana Silva, Beatriz Jesus, Carla Afonso, Helena Silva, Marcos Loureiro, Maria João Gomes, Mariana Freitas, Mariana Gonçalves, Vera Gonçalves, alunos do Curso de Humanidades, 10º C.

A Filosofia Portuguesa Medieval

As primeiras obras filosóficas da península ibérica foram contemporâneas da cristianização da filosofia. Os filósofos medievais portugueses sofreram profundas influências das correntes filosóficas dominantes. No entanto é possível encontrar no seu pensamento alguma originalidade. 

Paulo Orósio
Alguns filósofos medievais eram homens do Norte



O primeiro pensador relevante aparecido no que viria a ser o espaço português foi Paulo Orósio. Natural da região de Braga, nasceu em finais do século IV.Discípulo direto de Santo Agostinho, foi influenciado pelas suas conceções filosóficas e teológicas, sendo também marcado pelo ambiente religioso agitado do noroeste da península, combatendo as heresias, a saber: o priscilianismo, o origenismo e o pelagianismo.
Orósio escreveu entre outras obras, a História contra os pagãos (Historiarumadversuspaganos,libri VII), em 417. Trata-se do primeiro tratado de História universal escrito no seio da cultura cristã, tendo sido objeto de mais de mil reproduções manuscritas ao longo de toda a Idade Média, chegando a ser traduzida em árabe.
Nesta obra, Orósio disserta sobre a história encarada sob o ponto de vista do homem universal, libertando-se da conceção de tempo enquanto repetição cíclica que lhe dera Políbio. Para Orósio a história não é uma espécie de eterno retorno, é um processo linear e progressivo. Com base nesta conceção histórica, Paulo Orósio, procura demonstrar que o cristianismo não foi a causa imediata da queda de Roma às mãos de Alarico, rei dos Godos, como pretendiam os «pagãos». Defende que os acontecimentos são relativos, sendo apenas compreensíveis mediante a sua integração em séries sequenciais mais vastas e fazendo uso do método comparativo. É este enquadramento que permite que descortinar o seu significado pleno. Assim sendo, defende que ao contrário do que os pagãos afirmam, Roma não caiu em virtude da sua conversão ao cristianismo e do abandono das divindades pagãs. Dizer isto significa sobrevalorizar o presente, esquecendo que antes de Roma existiram três impérios, que também ruíram, sem que o cristianismo tivesse sido adotado como religião oficial.
Se todos os homensiguais por natureza, a vitória de um povo ou de uma nação faz-se sempre sobre a ruína e o sofrimento ou desespero de muitas outras, como sucedia com a sua Galécia, tão flagelada pela soberba e ambição dos invasores. Mesmo sobre o sofrimento de tantos povos vencidos, Roma foi o mais privilegiado dos impérios do mundo, o que corresponde a um claro desígnio divino. Na sua filosofia da história, tal como para a filosofia cristã em geral, a ética é a chave que permite explicar os acontecimentos históricos, visto que a desarmonia social e a guerra injusta são também a expressão da desarmonia interior da pessoa humana. Sendo a história conduzida pelo Deus dos cristãos, a essência do Império Romano permanece, pois, intacta.
Obras
Patrologia Latina, 31, 653-1216; Syntaktische, semasiologis cheundkritische Studienzu Orosius, Upsala, 1922 Histoiarum adversum paganos, libri VII, recentuit et commentario Carolus Zangemeister, Hildesheim, 1967. História contra os Pagãos (tradução portuguesa de J. Cardoso), Braga, 1986.
Bibliografia:
CALAFATE, Pedro (org), História do pensamento filosófico português, Lisboa, Editorial Caminho, 1999, v. I.
LACROIX, Benoit Lacroix, Orose et ses idées, Paris, 1965.
MARTINS, Mário ,Correntes de filosofia religiosa em Braga, Braga, 1950.
MARTINS, Diamantino Martins, «Paulo Orósio: sentido universalista da sua vida e da sua obra» em Revista Portuguesa de Filosofia, 11 (1955-I) pp. 375-384.
SILVA, Lúcio, «Introdução a Paulo Orósio», Ensaios de Filosofia e Cultura Portuguesa, Braga, 1994.


Trabalho realizado pelos alunos: Ana Cerqueira, Ana Silva, Beatriz Jesus, Carla Afonso, Helena Silva, Marcos Loureiro, Maria João Gomes, Mariana Freitas, Mariana Gonçalves, Vera Gonçalves, alunos do Curso de Humanidades, 10º C.
O Cruzar  da História e  da Filosofia na Idade Média

Tiago Lopes, in http://pt.slideshare.net/thiagohmlopes/filosofia-medieval-8667965

A Idade Média ou Medieval é o período histórico que decorre entre os séculos V e XV. Inicia-se com a Queda do Império Romano do Ocidente e termina com a transição para a Idade Moderna. A Idade Média situa-se entre a Antiguidade e a Idade Moderna, sendo frequentemente dividida em Alta e Baixa Idade Média.
Na Idade Média, a Igreja Católica aumenta significativamente o seu poder e a capacidade de influência sobre a população. O poder da Igreja condiciona o quotidiano de todas as relações. A soberania da Igreja interfere nas Artes, na Arquitetura, na Política, na Cultura, na Filosofia, nos assuntos militares, e, como não podia deixar de ser, nas questões religiosas.

Durante a Alta Idade Média verifica-se a continuidade dos processos de despovoamento, regressão urbana, invasões bárbaras, iniciadas durante a Antiguidade Tardia. Os povos bárbaros formam novos reinos, apoiando-se na estrutura do Império Romano do Ocidente. No século VII, o Norte de África e o Médio Oriente, que tinham sido parte do Império Romano do Oriente, tornam-se territórios islâmicos, depois da sua conquista pelos sucessores de Maomé. O Império Bizantino sobrevive e torna-se numa grande potência.
No Ocidente, embora tenha havido alterações significativas nas estruturas políticas e sociais, a rutura com a Antiguidade não foi completa e a maior parte dos novos reinos incorporam as mais importantes instituições romanas pré-existentes.
O cristianismo disseminou-se pela Europa ocidental. Assistiu-se à edificação de novos espaços monásticos. Durante os séculos VII e VIII, os Francos, governados pela dinastia carolíngia, estabeleceram um império que dominou grande parte da Europa ocidental até ao século IX, quando se desmoronaria perante as investidas de Vikings do norte, Magiares do leste e Sarracenos do sul.
Durante a Baixa Idade Média, que teve início depois do ano 1000, verifica-se na Europa um crescimento demográfico muito acentuado e um renascimento do comércio, à medida que a introdução de inovações técnicas e agrícolas garantem uma maior produtividade de solos e colheitas. É durante este período que se iniciam e consolidam as duas estruturas sociais que dominam a Europa até ao Renascimento: o senhorialismo – a organização de camponeses em aldeias que pagam renda e prestam vassalagem a um nobre – e ofeudalismo— uma estrutura política em que cavaleiros e outros nobres de estatuto inferior prestam serviço militar aos seus senhores, recebendo como compensação uma propriedade senhorial e o direito a cobrar impostos num determinado território. Grosso modo, a Idade Média caracteriza-se por uma economia ruralizada, enfraquecimento comercial, supremacia da Igreja Católica, sistema de produção feudal e sociedade hierarquizada.
 As Cruzadas, anunciadas pela primeira vez em 1095, representam a tentativa da cristandade em recuperar o domínio sobre a Terra Santa, tendo chegado a estabelecer alguns estados cristãos no Médio Oriente.
Os dois últimos séculos da Baixa Idade Média ficaram marcados por várias guerras, adversidades e catástrofes. A população foi dizimada por sucessivas pestes; só a peste negra foi responsável pela morte de um terço da população europeia entre 1347 e 1350. O Cisma do Ocidente no seio da Igreja teve consequências profundas na sociedade e foi um dos fatores que esteve na origem de inúmeras guerras entre estados. Assistiu-se também a diversas guerras civis e revoltas populares dentro dos próprios reinos. O progresso cultural e tecnológico transformou por completo a sociedade europeia, dando início à Idade Moderna.
A vida cultural foi dominada pela escolástica, uma filosofia que procurou unir a fé à razão, e pela fundação das primeiras universidades.
Como já dissemos, a Idade Média foi profundamente marcada pela influência da Igreja Católica nas diversas áreas do conhecimento. Esta influência é bem visível no domínio filosófico. Assim, a filosofia medieval centra-se sobre temas religiosos, a saber:
ü  A relação entre razão e fé;
ü  A existência e natureza de Deus;
ü  A natureza das substâncias angélicas;
ü  O problema da imortalidade da alma;
ü  As fronteiras entre o conhecimento e a liberdade humana;
ü  A individualização das substâncias divisíveis e indivisíveis.
                        
É possível identificar diferentes períodos na Filosofia Medieval
ü  Transição para o Mundo Cristão – Patrística - (século V e VI)
ü  Escolástica (século IX ao XIV)

1.       Transição para o Mundo Cristão (século V e VI) – Filosofia Patrística (dos padres da igreja)
Durante este período a maioria dos pensadores esforça-se por demonstrar a superioridade da fé em relação à razão. A fé não deve estar subordinada a razão. Alguns pensadores advogam, mesmo, a rutura entre fé e razão.
Porém, um importante filósofo cristão não seguiu este caminho. Santo Agostinho de Hipona (354 – 430) procurou usar a razão para justificar as verdades de fé.

Escolástica (século IX ao XIV)
A partir do século IX, assiste-se a uma tentativa por parte dos intelectuais em reconciliar a teologia cristã consigo própria, que viria a dar origem a um sistema de pensamento que procurou integrar de forma sistémica a fé e a razão. Como resultado desta tentativa, especialmente evidente nos séculos XII e XIII, a filosofia e a teologia fundem-se na escolástica. Os conhecimentos greco-romanos são postos ao serviço da compreensão, explicação e fundamentação racional da revelação divina. A construção da escolástica exigiu a apropriação da filosofia de Platão e de Aristóteles, não de forma direta, mas pelos olhos de Plotino, no primeiro caso, e de Avicena e Averróis, no segundo. Acontece assim um sincretismo entre as crenças religiosas e o conhecimento clássico. A Summa Teológica, de São Tomás de Aquino, constitui o ex-libris da filosofia escolástica.
Apesar de comungar das mesmas preocupações da Filosofia patrística, os pensadores escolásticos debruçam-se sobre aquilo que denominaram o Problema dos Universais, que diz respeito à relação entre a ideia e a diversidade do real. Neste debate, realistas e nominalistas esgrimem argumentos.
No entanto o tema recorrente em todos os filósofos cristãos é o problema da existência de Deus e da imortalidade da alma. Era necessário comprovar a existência do criador e do espírito humano imortal e para tal os instrumentos filosóficos da antiguidade clássica são habilmente utilizados. A racionalidade surge como um instrumento evangelizador.

Na transição do século XI para o XII assiste-se à afirmação das escolas catedrais por toda a Europa Ocidental e à transição do ensino dos espaços monásticos para as catedrais e centros urbanos. As escolas catedrais viriam por sua vez a ser substituídas por universidades nas cidades de maiores dimensões. Mas em todas as universidades da época, a influência da igreja era forte. As aulas eram ministradas em latim, e algumas das matérias de estudo eram: teologia (filosofia),ciências, letras, direito e medicina.

Principais filósofos da Idade Média:São Gregório de Nissa; Santo Agostinho; Santo Anselmo de Cantuária, Santo Alberto Magno; Guilherme de Ockham; Abelardo; São Tomás de Aquino; São Boaventura.

Principais obras filosóficas da Idade Média
- Cidade de Deus (Santo Agostinho)
- Confissões (Santo Agostinho)
- Suma Teológica (São Tomás de Aquino)
Bibliografia:
FERRATER-MORA, José. Dicionário de filosofia. Edições Loyola, 2001.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

Webgrafia:
http://cultura-medieval.blogspot.pt/ (consultado em 1/03/2015)