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quarta-feira, 8 de abril de 2015

São Martinho de Dume (c. 518-579)


Natural da Panónia (Hungria), São Martinho de Dume, também conhecido como São Martinho de Braga, nasceu entre 518-525. Foi nomeado bispo de Dume e, posteriormente, arcebispo de Braga, tendo falecido em 20 de março de 579.
Martinho de Dume e de Braga é considerado o Apóstolo dos Suevos. A sua missão era a de evangelizar a Galécia. Foi um homem extremamente culto. Na sua atividade pastoral escreveu de modo a que qualquer homem pudesse compreendê-lo, mas sempre orientado por um forte sentido moralista. No sermão Contra as Superstições: Da instrução dos Rústicos(De CorrectioneRusticorum), redigido, provavelmente, por volta do ano 572, após a realização do II Concílio de Braga procura converter aqueles «que continuam presos à antiga superstição dos pagãos». Neste sermão propõe a substituição de falsos símbolos por símbolos justificados, ataca a superstição. Essa afirmação da fé cristã pretende levar os aldeões a abandonarem os seus rituais sagrados, substituindo-os pelo batismo, abandonando as heresias e aceitando a verdade cristã, sob a ameaça de sofrer o castigo eterno
Foi autor, entre outras obras, de um tratado de ética, Formulae vitae honestae, dedicada ao rei dos Suevos, esta obra evidencia a influência de Séneca e apoiou-se apenas na razão natural, dispensando o recurso à moral revelada ou à Bíblia.

Excertos
Do opúsculo De Correctione Rusticorum, dirigido ao povo rústico, os aldeões da zona da Galécia, tendo como destinatário o bispo Polémio de Astorga e da Formulae vitae honestae, dedicada ao rei dos Suevos.
Do bispo Santo Martinho para o bispo Polémio.
(...) Vendo o Diabo que o homem fora criado, precisamente, para ocupar no reino de Deus, o lugar de onde ele tinha caído, roído de inveja, persuadiu o homem a transgredir os mandamentos de Deus. Devido a esta ofensa, o homem foi expulso do Paraíso, para exílio deste mundo, onde sofreria muitos trabalhos e dores.
(...) Então, o Diabo e os seus ministros, os demónios, que foram expulsos do Céu, vendo os homens ignorantes, esquecido de Deus seu Criador, começavam a entre as criaturas e aparecer-lhes, manifestando-se-lhes de diferentes formas, a falar com elas e a pedir que lhes oferecessem sacrifícios no alto dos montes, nas florestas frondosas e a considera-los como deuses, dando a si próprios nomes de homens celerados, que tinham passado a vida a cometer celeridades de toda a espécie de crimes, um chamou a si de Júpiter, o qual fora mago e se manchara e adultérios e incestos, de tal modo que tomou por sua mulher a irmã, que se chamava Juno, corrompeu as suas filhas Minerva e Vênus e cometeu incesto, torpemente, com todos os seus parentes.
Um outro demónio quis chamar-se Mercúrio, que foi inventor dos roubos e das fraudes dolosas, q quem os homens cobiçosos, como se fosse ao deus do lucro, oferecem sacrifícios, ao passarem pelas encruzilhadas, lançando pedras e com elas formando montes.
Outro demónio atribuiu a si próprio o nome de Saturno, que vivendo em total crueldade, até devorava os seus filhos recém-nascidos.
Outro demónio fingiu que era Vênus, que foi mulher meretriz. Não só cometeu inumeráveis adultérios, como se prostitui com o seu pai Júpiter e com seu irmão Marte.
(...) Os demónios também persuadiram a que lhes construíssem templos e que neles colocasse imagens ou estátuas de homens celerados e lhes erguessem altares nos quais sacrificassem sangue, não só de animais, mas também de homens.
Além disso, muitos demónios, que foram expulsos do Céu, presidem o mar, aos rios, às fontes, às florestas, aos quais os homens ignorantes de Deus, do mesmo modo adoram como se fossem deuses e oferecem-lhes sacrifícios. No mar são chamados Neptuno, nos rios Lâmias, nas fontes Ninfas, nas florestas Dianas; todos eles são demónios e espíritos malignos que atormentam e perturbam os homens infiéis, que não sabem proteger-se com o sinal da cruz.
Contudo, não os atormentam sem a permissão de Deus, porque têm irritado Deus e não crêem, com todo o coração, na fé de Cristo, mas são dúbios. “A ponto de darem os nomes próprios dos demónios a cada um dos dias e chamam-lhes dia de Marte, de Mercúrio, de Júpiter, de Vénus e de Saturno, eles que não fizeram nenhum dia, mas foram homens péssimos e celerados entre gente grega.”

Preparai a vossa vida com boas obras. Frequentai a Igreja ou os lugares sagrados para rezar a Deus. Não desprezai o dia do Senhor, mais respeitai-o com reverência, o qual se chama Domingo, porque o Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, nesse dia ressuscitou dos mortos.
Como é iníquo e vergonhoso que aqueles que são pagãos e que ignoram a fé Cristã, adorando os ídolos dos demónios, guardem o dia de Júpiter ou de qualquer outro demónio e se abstenham de trabalhar, quando na realidade os demónios não criaram e nem possuem nenhum dia.
Regra de vida Honesta
É próprio do prudente, escreve S. Martinho de Dume, examinar conselhos e não se deixar levar arrebatadamente dos falsos com fácil credulidade. Nas coisas duvidosas não decididas, mas suspende o teu juízo: nada  afirmes sem o teres averiguado, porque nem tudo o que tem aparência de verdade é verdadeiro; assim como, muitas vezes, o que à primeira vista parece incrível nem por isso é falso. De facto, frequentemente a verdade conserva a cara da mentira e não poucas a mentira se esconde debaixo da aparência da verdade.

Bibliografia:

MARTINHO DE DUME, Opúsculos Morais. Tradução: Maria de Lourdes Sirgado Ganho, Lisboa, INCM, 1998.
BARBOSA, A. Miranda, Obras Filosóficas. Lisboa, INCM, 1996.
MARTINS, Mário, Correntes da Filosofia Religiosa dos séculos. IV a VII, Porto, Livraria T Martins, 1950.

Trabalho realizado pelos alunos: Ana Cerqueira, Ana Silva, Beatriz Jesus, Carla Afonso, Helena Silva, Marcos Loureiro, Maria João Gomes, Mariana Freitas, Mariana Gonçalves, Vera Gonçalves, alunos do Curso de Humanidades, 10º C.

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