São Martinho de Dume (c. 518-579)
Natural da Panónia (Hungria), São
Martinho de Dume, também conhecido como São Martinho de Braga, nasceu entre
518-525. Foi nomeado bispo de Dume e, posteriormente, arcebispo de Braga, tendo
falecido em 20 de março de 579.
Martinho de Dume e de
Braga é considerado o Apóstolo dos Suevos. A sua missão era a de evangelizar a
Galécia. Foi um homem extremamente culto. Na sua atividade pastoral
escreveu de modo a que qualquer homem pudesse compreendê-lo, mas sempre
orientado por um forte sentido moralista. No sermão Contra as Superstições: Da
instrução dos Rústicos(De CorrectioneRusticorum), redigido,
provavelmente, por volta do ano 572, após a realização do II Concílio de Braga
procura converter aqueles «que continuam presos à antiga superstição dos
pagãos». Neste sermão propõe a substituição de falsos símbolos por símbolos
justificados, ataca a superstição. Essa afirmação da fé cristã pretende levar os
aldeões a abandonarem os seus rituais sagrados, substituindo-os pelo batismo,
abandonando as heresias e aceitando a verdade cristã, sob a ameaça de sofrer o
castigo eterno
Foi autor, entre outras obras, de um tratado de ética, Formulae
vitae honestae, dedicada ao rei dos Suevos, esta obra evidencia a
influência de Séneca e apoiou-se apenas na razão natural, dispensando o recurso
à moral revelada ou à Bíblia.
Excertos
Do opúsculo De Correctione Rusticorum,
dirigido ao povo rústico, os aldeões da zona da Galécia, tendo como
destinatário o bispo Polémio de Astorga e da Formulae vitae honestae, dedicada ao rei dos
Suevos.
Do bispo Santo Martinho para o bispo Polémio.
(...) Vendo o Diabo que o homem fora criado,
precisamente, para ocupar no reino de Deus, o lugar de onde ele tinha caído,
roído de inveja, persuadiu o homem a transgredir os mandamentos de Deus. Devido
a esta ofensa, o homem foi expulso do Paraíso, para exílio deste mundo, onde
sofreria muitos trabalhos e dores.
(...) Então, o Diabo e os seus ministros, os
demónios, que foram expulsos do Céu, vendo os homens ignorantes, esquecido de
Deus seu Criador, começavam a entre as criaturas e aparecer-lhes,
manifestando-se-lhes de diferentes formas, a falar com elas e a pedir que lhes
oferecessem sacrifícios no alto dos montes, nas florestas frondosas e a
considera-los como deuses, dando a si próprios nomes de homens celerados, que
tinham passado a vida a cometer celeridades de toda a espécie de crimes, um
chamou a si de Júpiter, o qual fora mago e se manchara e adultérios e incestos,
de tal modo que tomou por sua mulher a irmã, que se chamava Juno, corrompeu as
suas filhas Minerva e Vênus e cometeu incesto, torpemente, com todos os seus
parentes.
Um outro demónio quis chamar-se Mercúrio, que foi
inventor dos roubos e das fraudes dolosas, q quem os homens cobiçosos, como se
fosse ao deus do lucro, oferecem sacrifícios, ao passarem pelas encruzilhadas,
lançando pedras e com elas formando montes.
Outro demónio atribuiu a si próprio o nome de
Saturno, que vivendo em total crueldade, até devorava os seus filhos
recém-nascidos.
Outro demónio fingiu que era Vênus, que foi mulher
meretriz. Não só cometeu inumeráveis adultérios, como se prostitui com o seu
pai Júpiter e com seu irmão Marte.
(...) Os demónios também persuadiram a que lhes
construíssem templos e que neles colocasse imagens ou estátuas de homens
celerados e lhes erguessem altares nos quais sacrificassem sangue, não só de
animais, mas também de homens.
Além disso, muitos demónios, que foram expulsos do
Céu, presidem o mar, aos rios, às fontes, às florestas, aos quais os homens
ignorantes de Deus, do mesmo modo adoram como se fossem deuses e oferecem-lhes
sacrifícios. No mar são chamados Neptuno, nos rios Lâmias, nas fontes Ninfas,
nas florestas Dianas; todos eles são demónios e espíritos malignos que
atormentam e perturbam os homens infiéis, que não sabem proteger-se com o sinal
da cruz.
Contudo, não os atormentam sem a permissão de Deus,
porque têm irritado Deus e não crêem, com todo o coração, na fé de Cristo, mas
são dúbios. “A ponto de darem os nomes próprios dos demónios a cada um dos dias
e chamam-lhes dia de Marte, de Mercúrio, de Júpiter, de Vénus e de Saturno,
eles que não fizeram nenhum dia, mas foram homens péssimos e celerados entre
gente grega.”
Preparai a vossa vida com boas obras. Frequentai a
Igreja ou os lugares sagrados para rezar a Deus. Não desprezai o dia do Senhor,
mais respeitai-o com reverência, o qual se chama Domingo, porque o Filho de
Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, nesse dia ressuscitou dos mortos.
Como é iníquo e vergonhoso que aqueles que são
pagãos e que ignoram a fé Cristã, adorando os ídolos dos demónios, guardem o
dia de Júpiter ou de qualquer outro demónio e se abstenham de trabalhar, quando
na realidade os demónios não criaram e nem possuem nenhum dia.
Regra de vida Honesta
É próprio do prudente, escreve S. Martinho de Dume,
examinar conselhos e não se deixar levar arrebatadamente dos falsos com fácil
credulidade. Nas coisas duvidosas não decididas, mas suspende o teu juízo: nada
afirmes sem o teres averiguado, porque
nem tudo o que tem aparência de verdade é verdadeiro; assim como, muitas vezes,
o que à primeira vista parece incrível nem por isso é falso. De facto,
frequentemente a verdade conserva a cara da mentira e não poucas a mentira se
esconde debaixo da aparência da verdade.
Bibliografia:
MARTINHO
DE DUME, Opúsculos Morais. Tradução: Maria de Lourdes Sirgado Ganho,
Lisboa, INCM, 1998.
BARBOSA,
A. Miranda, Obras Filosóficas. Lisboa, INCM, 1996.
MARTINS, Mário, Correntes da
Filosofia Religiosa dos séculos. IV a VII, Porto, Livraria T Martins, 1950.
Trabalho realizado pelos alunos: Ana Cerqueira, Ana Silva, Beatriz
Jesus, Carla Afonso, Helena Silva, Marcos Loureiro, Maria João Gomes, Mariana
Freitas, Mariana Gonçalves, Vera Gonçalves, alunos do Curso de Humanidades, 10º
C.
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